sexta-feira, 10 de outubro de 2014

LEMBRANÇAS









Por vezes o passado nos apronta,
E volta assim meio que de repente,
De boas lembranças nos dá conta,
Numa viagem inversa, oxigena a mente,
Fazendo vibrar o peito dormente.

Hoje à noite fui buscar longe,
Reservado num canto solene,
Viajei para um lugar bem distante,
Onde mora o princípio da gente,
E um pedaço da vida pungente.

Lembrei-me dos dias queridos,
Quando eu descalço e inocente,
Descia e subia os morros contidos,
Num fragmento de lembrança recolhido,
Em um ponto escondido no fundo da mente.

Naquelas idas e vindas, eu e minhas irmãs,
Queridas e amadas, íamos ao ninho da coruja,
Importunar quem feliz vivia, como guardiãs,
De "lindas crias" que na toca da pedra escondia,
E com tanta coragem e bravura as defendia.

Nossa casa tão humilde,
Num canto da serra escondida,
Mirava na estrada comprida,
Ansiosa pra trazer meus queridos,
Depois de uma lida sofrida.

Ali era a nossa morada,
Eu, meus pais, minhas irmãs,
Outros também ajudavam,
Dividindo a alegria no café da manhã,
No pão, na lida e na luta demandada.

Na pedreira da chegada,
Meu pai ia todo dia,
Buscar minha mãe que vinha,
Da escola que com todo zelo fazia.


Ali comecei a entender,
Ali tudo pra mim era festa,
Ali comecei a aprender,
A tirar o leite da vaca floresta.

Em volta da casa um jardim,
No arreio o duro burro “cheirim”,
E como era difícil pegar,
Meu pangaré "bonitim".

Para arrear era um problema,
Somente eu ou vaqueiro da cena,
Algumas primas sentiram seus dentes,
Na hora de jogar a sela.

Era pequeno, mas era valente,
Na corrida não tinha pra ninguém,
Na redondeza nenhum podia,
A não ser o gaúcho que um primo tinha.

E o que direi do mel que nunca provamos,
Quando meu tio "corajoso e valente",
Reuniu a meninada e seguimos contentes,
Ao pé da colmeia fez uma "bela oração",
Deixando nervosos os anfitriões,
Que nos fizeram correr tirando a animação.

A alegria no domingo se completava,
Quando de casa todos saiam,
E na igreja do valão nos encontrava,
Para assistir ao culto daquele dia.

O tempo, foi passando,
Mudamos para a cidade,
Eu e o primo Luiz, crescemos,
Juntos, quase na mesma idade.

Numa linha de leite sofrida,
Passamos um bom tempo da vida,
Um caminhão bem antigo,
Era o transporte que nos valia.


Ainda na flor da idade,
Deixei minha mocidade,
No banco do brasil ingressei,
Onde por mais de 20 anos trabalhei.

Assim foram meus primeiros dias,
Que lembro com alegria,
Saudoso tempo que aqui não vem mais,
Hoje recordo ouvindo canções de dias iguais. 

 .

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