quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

VOZ DA CONSCIÊNCIA








Eis que ouço uma voz , continua e inquietante,
Ela não dá tréguas, age serena e vigilante,
Vem de longe muito longe, ou de muito perto,
Quem sabe, de onde ninguém conhece, decerto,
.
Como o itinerário marcante que ronda o pensamento,
Viaja por todos os extremos, mas guarda sempre a visão,
Num destino traçado, bem marcado no entendimento,
Mantendo bem firme, jamais esquecendo a bela direção.
.
E mesmo que eu me distancie, bem lá do recôndito, aflita,
Insiste aquela voz, as vezes amável, ou corretora que é,
Me lembrando de fatos que determinaram os atos, e aplica,
Uma injeção potente, que trava e contém meus pés,
.
Num dado momento, me obriga , a parar no tempo,
Sou levado a pensar, a pensar muito, e a olhar a sorte,
Entender o norte, compreender a morte, viver o vento,
Estender a mão, abraçar ao irmão, flexionar a rigidez do porte,
.
Cair na real, da glória irreal, antes que ela fique fatal,
Apalpar o chão, e caminhar com os pés que não vão,
Me conter na multidão, que busca por um pedaço de pão,
Abraçar ao desejo que eu não vejo, de uma sorte desigual,
.
Ah! aquela voz, doce e companheira, amiga, ou traiçoeira,
Me derruba na hora certa, me faz ver a pura ilusão,
De que tanto se apegava meu tenro e inocente coração,
Faz sangrar o peito, para andar direito, na rota altaneira,
.
Na agonia do descamisado, a hierarquia desonesta,
Que faz de um pobre coitado uma vitima sem festa,
No regalo exibido e ostentado pelo vigor alheio,
Quando será o fim desse descalabro? quando terá freio?
.
Mergulhado nesse labirinto inquietante, sigo perturbado,
Ouvindo a voz amiga, me adentrando aos fatos,
Ouço o som de um choro continuo, que vem de perto,
Princípios que fizeram o manto,são execrados, a céu aberto,
.
A inocência agoniza, na expectação de um futuro sombrio,
Qual será o destino do amor desprendido, que projeta o peito?
O sangue do meu sangue, sem razão, sem chances e sem jeito,
Uma rota estranha, invertida, sem calor, sem amor e sem brio,
.
No domínio material, onde os valores perderam o preço,
Ora muito aquém da saborosa fruta, que merece meu apreço,
Banalizado nas futilidades de outrora, que agora, têm o berço,
Ganham formas, criam normas, fazem da lama o bom endereço.
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O sorriso que a face traz, indica uma inversão que assusta,
As palavras que da língua saem, não se escreve nem se escuta,
Produzem efeito devastador, sucumbem a honra e o vigor,
Desmancham sonhos, criam o desencanto, desfiguram o amor.
.
Oh! essa voz inquietante, que tanto, tanto me atordoa,
Que fixa meus olhos aflitos naquilo que está atrás da proa,
Nos porões esquecidos de um labirinto confuso e dormido,
Onde os ratos fazem a festa, na inércia dos olhares perdidos.
.
No lamento silencioso da mão estendida e olhar suplicante,
No calor escaldante de um sol que judia, e dura mais que um dia,
E na curva do pensamento tem uma sombra que alivia e aplaca,
Afaga o peito esquecido, cura as feridas ama ao cambaleante.
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No sangue derramado que leva a vida a quem tanto precisa,
Que se debate na dor, na frieza da ilusão, sem vida e vigor,
Que abraça a miséria, se perde na matéria, de uma face lisa,
Desliza na fútil emoção, vive na contramão, esquece o amor.
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Oh! voz que tanto me fala, me cala e cerra a minha boca,
Esse tempo desprendido, jamais, jamais será perdido,
Ouço com atenção, você que prende e me acorrenta no chão,
Faço de ti um lenitivo, preciso, que nunca, nunca será esquecido.